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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Filosofia da ação – A rede conceitual da ação: ação e explicação «»

  •  Passear, estudar ou dizer “olá” são tipos de ações. Mas o que é realmente uma ação? Podemos partir do seguinte:
    • As ações são acontecimentos.

      • Um acontecimento é algo que ocorre uma única vez numa determinada região do espaço durante um certo período de tempo.

    • Parece evidente que nem toda ação é um acontecimento. Então, o que terá de especial um acontecimento para que seja uma ação?

  • As ações são acontecimentos que envolvem agentes.

    • Um agente é o sujeito de uma ação. É uma pessoa: tem estados mentais conscientes, como crenças e desejos, e comporta-se de determinadas maneiras em função dos seus estados mentais.

      • De fato, todas as ações são acontecimentos que envolvem agentes, mas nem todos os acontecimentos que envolvem agentes são ações. O que parece evidenciar que:

  • As ações são acontecimentos que consistem em algo que um agente faz.

    • Será que esta afirmação nos permite compreender adequadamente o que é uma ação? Não, já que nem todos os acontecimentos que consistem em algo que um agente faz são propriamente ações.

    • É a presença de uma intenção que parece crucial para que estejamos perante uma ação. Assim…

  • As ações são acontecimentos que consistem em algo que um agente faz intencionalmente.

    • Mas esta perspectiva, bastante comum, acerca da ação, nos conduz a uma dificuldade: para sabermos se um acontecimento é ou não uma ação, temos de explicá-lo, de descrevê-lo. Porém, um mesmo acontecimento permite várias descrições verdadeiras.

    • A filósofa inglesa Elizabeth Anscombe (1919-2001) encontrou uma saída para esta dificuldade. Em seu entender, um acontecimento em si nunca é intencional: pode ser intencional sob algumas descrições, mas não o ser sob outras descrições. A solução reside na seguinte ideia:

      • Um acontecimento é uma ação se é intencional sob pelo menos uma descrição verdadeira.

  • Podemos afirmar, então, que as ações são acontecimentos que consistem em algo que um agente faz, sendo intencionais sob pelo menos uma descrição verdadeira.

    • Mas como se pode explicar as ações?

      • Explica-se uma ação indicando as crenças e os desejos do agente que causaram ou motivaram essa ação.

    • Mas as explicações de ações podem sempre ser aprofundadas. Cada explicação suscita facilmente novos pedidos de explicação, pois um desejo ou uma crença podem resultar de outros desejos e crenças, formando uma rede muito complexa.

      • Para explicar de forma aprofundada certas ações, temos de tentar compreender a parte relevante da rede de estados mentais do agente.

  • Texto de filósofo:

    • Um erro comum que existe na teoria da ação é supor que todas as ações intencionais são o resultado de alguma espécie de deliberação, que são o produto de uma cadeia de raciocínio prático. Mas, obviamente, muitas coisas que fazemos não são assim. Simplesmente fazemos alguma coisa sem qualquer reflexão prévia. Por exemplo, numa conversa normal, não se reflete sobre o que se vai dizer a seguir – simplesmente se diz. Em tais casos, há decerto uma intenção, mas não é uma intenção formada antes da realização da ação. É o que eu chamo uma intenção na ação. Noutros casos, porém, formamos intenções antecedentes. Refletimos sobre o que queremos e sobre qual é a melhor maneira de o levar a cabo. Este processo de reflexão (Aristóteles chamou-lhe «raciocínio prático») resulta caracteristicamente na formação de uma intenção prévia, ou, como também Aristóteles sublinhou, resulta por vezes na própria ação. (John R. Searle, Mente, Cérebro e Ciência, 1984, trad. de Artur Morão, pp. 80-81)


  • Atividades:

1. Todos os acontecimentos são ações? Por quê?

2. Tudo o que um agente faz é uma ação? Por quê?

3. «Se um acontecimento não é intencional sob uma descrição verdadeira, então não é uma ação.» Esta afirmação é verdadeira? Por quê?

4. «Para explicar uma ação, basta apontar certas crenças ou certos desejos do agente.» Esta afirmação é verdadeira? Por quê?

5. «Para explicar uma ação, é preciso apontar as crenças e os desejos do agente que motivaram essa ação.» Esclareça esta afirmação.


Fonte:  A Arte de Pensar 10a. Aires Almeida e outros. Didactica Editora. 1ª Ed.

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