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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Resumo do Capítulo 03 (A ciência e a arte) da Unidade 01 (Como pensamos?)


A relações entre arte e ciência são estreitas, cada uma se apropriando dos conhecimentos da outra durante sua evolução.
→ A ciência é um tipo de pensamento que investiga os fenômenos da natureza e cria conhecimentos sobre ela por um processo de experimentação. É um conhecimento sistemático porque é organizado e procura relacionar as várias partes que compõe esse conhecimento, é metódico porque segue um caminho previamente concebido, utilizando ferramentas adequadas para a obtenção de um resultado.
→ A ciência de hoje foi criada no século XVI e nasceu de um processo iniciado bem antes. A ideia de que só podemos construir explicações com base em fatos observados revolucionou o pensamento científico.
→ Os filósofos gregos falavam em dois níveis de conhecimento: a doxa e a episteme. Doxa: conhecimento baseado nas observações cotidianas e produzido sem método nem sistematização. Episteme: conhecimento racional, também baseado em observações, mas construído de maneira sistemática e metódica.
→ Os primeiros filósofos (pré-socráticos) dedicaram-se a explicar aquilo que chamavam de physis (a natureza). Seu principal problema era a busca pela arkhé, ou o princípio universal de todas as coisas, elemento do qual todas as coisas provêm. Procuravam abandonar as explicações míticas ou religiosas, construindo uma hipótese racional.
→ No século XVI, quando o que chamamos de ciência foi criada e consolidada, discutia-se qual seria o método apropriado para se chegar aos conhecimentos verdadeiros.
→ René Descartes: método cartesiano. O método começa sempre com a dúvida metódica. procedimentos para alcançar o conhecimento de modo seguro: 1) nunca aceitar como verdadeiro algo que fosse possível duvidar; 2) dividir os problemas em problemas menores: análise; 3) conduzir o pensamento de forma ordenada, indo sempre do mais simples para o mais complexo: síntese; 4) revisar a produção do conhecimento em cada etapa, de modo a nada esquecer ou deixar de lado.
→ Esse método, baseado na matemática, concebe a ciência como um conhecimento racional e demonstrativo.
→ O método cartesiano conquistou seguidores, mas também opositores, que sustentaram que o conhecimento verdadeiro só pode ser alcançado partindo-se das observações que fazemos por meio dos sentidos. Esta posição ficou conhecida como empirismo.
→ John Locke: não existem ideias inatas: quando nascemos nossa mente é como uma folha de papel em branco (uma tabula rasa), na qual a experiência vai escrevendo as informações por meio dos sentidos. Distinção entre ideias simples, produzidas diretamente a partir das informações obtidas pelos sentidos, e ideias complexas, produzidas a partir de outras ideias. As ideias simples estão mais próximas da experiência, portanto a chance de estarem erradas é menor.
→ Da combinação destas diferentes posições surgiu o que se denomina ciência moderna, cuja diretriz foi dada pelo filósofo alemão Immanuel Kant: o conhecimento é sempre algo produzido pela razão, mas ela nunca é pura, pois depende dos dados obtidos pelos sentidos.
→ A ciência moderna caracteriza-se por dois aspectos principais: a utilização do método experimental, sua aplicação a um objeto específico.
→ O método científico pode ser caracterizado por cinco passos: => observação: deve ser metódica, rigorosa, seguindo procedimentos e protocolos específicos, definidos pelo método; => formulação de uma hipótese: com base nos fatos observados, faz-se uma reorganização dos dados obtidos, de modo a explicar o que foi visto; => experimentação: verifica-se a hipótese construída, que pode ser ou não comprovada; é uma nova observação feita em condições privilegiadas, simulando a natureza; => generalização: encontrados na experimentação resultados que se repetem, é possível elaborar “leis” gerais ou particulares que expliquem os fenômenos; => elaboração de teorias (modelos): pelos dados obtidos, é possível criar modelos teóricos de aplicação mais geral, capazes de explicar realidades mais complexas.
→ A ciência não cria conceitos, mas funções. A função é a forma de proceder da ciência, que por meio da experiência relaciona determinados aspectos, tomando um em função do outro.
→ A ciência existe desde a Antiguidade, fazendo parte da própria filosofia. A partir do século XVII, alguns ramos começaram a se especializar e se tornar autônomos. Com a consolidação do método científico, sua aplicação a diferentes objetos constituiu diferentes ciências.
→ A física foi a primeira ciência autônoma moderna, seguiram-se a química e a biologia. Somente a partir da segunda metade do século XIX, o método científico, aplicado aos fenômenos humanos com certas adaptações, levou à criação das ciências sociais e das ciências humanas.
→ A partir do século XX, produziu-se a noção de conhecimento científico como um saber aberto, sempre aproximativo e corrigível, e não uma afirmação de verdades absolutas.
→ Atualmente a ciência é cada vez mais uma atividade colaborativa, feita em redes de pesquisa.
>>>Arte: o ser humano como criador
→ Desde as primeiras civilizações humanas, a arte é valorizada como um meio de expressão do potencial criativo dos seres humanos.
→ Nietzsche: a beleza e a criatividade da civilização grega antiga se deveram a sua capacidade de articular duas forças, a princípio opostas: o apolíneo e o dionisíaco. A criação humana depende da articulação destes dois princípios: o dionisíaco nos dá o princípio criativo e o apolíneo nos dá a ordem e a harmonia necessárias para a produção de algo belo. É a arte – com suas forças de criação – que nos faz plenamente humanos, pois ela nos dá a oportunidade de produzir nossa própria vida, construindo o que somos na medida em que vamos vivendo.
→ Analisando a arte e a cultura no século XX, os filósofos Adorno e Horkheimer, criaram o conceito de indústria cultural. Antes deles, outro filósofo alemão, Walter Benjamin, havia publicado um ensaio sobre a questão da arte na sociedade industrial.
→ Benjamin: a natureza da obra de arte transforma-se com a invenção das técnicas de reprodução mecânicas, pois não faz mais sentido falar em original. A reprodução contém um aspecto positivo, pois democratiza o acesso à arte; embora esta perdesse seu caráter singular, de ser única, podia agora ser levada às massas.
→ Adorno e Horkheimer: caráter dessa democratização é problemático, pois a obra de arte reproduzida podia ser transformada em apenas mais uma mercadoria pela lógica capitalista e, como mercadoria, deixava de ser obra de arte. Surgia assim uma nova indústria, a “indústria cultural”, destina a produzir objetos culturais para serem vendidos como mercadoria.
→ O efeito desse processo é a semicultura, isto é, a cultura pela metade. Ouvimos e assistimos o que o mercado e a indústria cultural nos oferece. Pensamos que escolhemos o que gostamos, mas escolhemos apenas a partir das opções que a indústria cultural nos dá.
→ Em que medida a internet pode agir a favor ou contra a indústria cultural. Por um lado a tecnologia permite que os artistas possam criar e divulgar seu trabalho, mesmo sem acesso aos recursos financeiros, nesse sentido, a internet contraria a indústria cultural. Por outro lado, porém, a tecnologia e a internet podem ser, elas mesmas, um reforço da própria indústria cultural.
>>> Arte e criação
→ Ao relacionar-se com o mundo, como qualquer pessoa, o artista experimenta sensações que o afetam, o mobilizam, deixam nela alguma marca. Diferentemente, os artistas são capazes de transformar as percepções e os sentimentos em algo que condensa esse estado.
→ Outra pessoa, quando em contato com o objeto artístico, sente-se afetada por ele. Por isso, Deleuze e Guatarri falam da potência criativa da arte: o que o artista cria é um “bloco de sensações” capaz de provocar novas sensações nas pessoas.
→ É importante ressaltar que os sentimentos da pessoa que usufrui a obra não são necessariamente os mesmos do artista. Cada um tem suas próprias percepções, e uma mesma obra pode provocar reações muito diversas.
>>> As três potências do pensamento
→ Afinal, por que a filosofia mantém com a mitologia, a religião e o senso comum relações muitas vezes conflituosas, enquanto seus vínculos com a arte e a ciência são mais estreitos?
→ Uma obra de arte é produto de uma experiência do pensamento que tem o potencial de despertar em outras pessoas a sensibilidade e a curiosidade, instigando-as a pensar. Da mesma forma, uma teoria científica é também um produto do pensamento e estimula outras pessoas a refletir. A filosofia, igualmente, consiste em produzir conceitos com base em experiências do pensamento e gerar, assim, outros pensamentos.
→ Com as formas de enfrentar o mundo que não convidam nem incitam a um pensamento constante, a filosofia não pode interagir com a mesma intensidade. Com aquelas que estão o tempo todo nos fazendo pensar, a filosofia dialoga, e interfere nelas, da mesma forma que recebe suas influências e interferências.
→ Enquanto a ciência produz funções, a arte produz sensações e a filosofia produz conceitos, as três se complementam na invenção de novas formas de ver o mundo e a vida.

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