3º Ano - Unidade 03 (Por que e como agimos?) - Capítulo 01 (Os valores e as escolhas)
→ Se os humanos são seres de ação, o que move nossos atos? Por
que agimos? Como agimos? Com base em que decidimos o que vamos fazer?
→ Para responder a estas questões, a filosofia parte da noção
de valor. Quando temos que decidir, nós avaliamos, isto é,
comparamos os prós e os contras de cada possibilidade e atribuímos
diferentes valores a cada uma delas, e escolhemos aquela que nos
parece ter mais valor.
→ Platão e a universalidade dos valores: como é possível tornar
uma cidade justa e consequentemente feliz? Possibilitando aos
cidadãos o conhecimento de sua própria natureza, pois somos felizes
quando vivemos de acordo com nossa natureza. Cada um de nós tem um
temperamento ou caráter, que é a forma como as três almas se
temperam, se misturam, com uma delas predominando: concupiscível;
irascível; racional. Tendo em vista os três caracteres básicos, a
cidade justa deve conter três classes sociais: produtora, guardiã e
governante. Cada classe contribuiria com as necessidades da
comunidade e teria condições de viver de acordo com sua natureza.
Aquele que age mais de acordo com sua própria natureza é
qualificado virtuoso. Valores como felicidade, justiça e virtude são
universais, isto é, valem para todos e em qualquer época e lugar.
Sobre a virtude, o filósofo afirma já estar ela presente em nós
desde o nascimento. Porém, precisamos alcançá-la pelo
autoconhecimento.
→ Nietzsche e a historicidade dos valores: crítica à ideia
platônica de universalidade dos valores. Eles são produzidos
historicamente. A principal tarefa da filosofia seria produzir uma
escala de valores, mostrando sua hierarquia. É sobre a própria
moral que se precisa pensar, compreendida na história, analisada em
suas origens. Predomina entre nós uma “moral de rebanho”, isto
é, um tipo de ação em que grandes grupos seguem um líder. Essa
moral, provém de uma inversão de valores, que passou a considerar o
fraco como melhor que o forte. Todos os seres vivos são animados por
um impulso vital: “vontade de poder” ou “vontade de potência”.
Há uma “vontade de poder forte”, que é ativa, e uma “vontade
de poder fraca”, que é reativa. Elas implicam dois tipos de
caráter: um caráter ativo (forte) e um caráter reativo (fraco).
Porém, foi sendo criada a ideia de que os fracos são os bons e os
fortes, por oposição, são maus: a inversão de valores; cujas
duas fontes principais são a crença na imortalidade da alma, como
propunha a filosofia socrático-platônica; e o cristianismo, que
levou a resignação às suas mais profundas consequências. Os dois
caracteres (o forte e fraco) implicam dois sistemas de valores
distintos, ou duas diferentes morais: a moral do forte, afirmativa; a
moral do fraco, reativa. Há uma questão psicológica fundamental
nesse mecanismo de criação de uma moral de rebanho: o
ressentimento. há também duas concepções de felicidade: a
felicidade ativa (viver ativamente, criando e produzindo); e a
felicidade passiva (um entorpecimento, algo que se espera um dia
possuir). É urgente um processo de “transvaloração dos valores”,
uma superação dos valores atualmente vigentes, pela afirmação de
valores ativos, e não mais reativos.
→ Sartre – valor, escolha e liberdade: trabalha com o método
fenomenológico, que tem como um dos conceitos centrais o de
consciência. A consciência não possui uma interioridade, é vazia
de conteúdo, se caracteriza por ser um ato: o ser consciente é
aquele que observa o mundo e, ao vê-lo, percebe que está vendo. O
valor é a forma de ser da consciência. O valor tem a mesma
estrutura da vontade: o valor é uma falta, uma ausência, que faz
com que atuemos para preenchê-la, para anulá-la. Tão logo agimos e
conquistamos um valor, preenchendo a ausência, a consciência quer
se manifestar de outra forma, por meio de outros valores. É por meio
desse processo que um ser transcende seu próprio ser, indo além de
si mesmo. O valor não é algo dado, absoluto, mas um produto da
consciência: é impossível uma moral que fundamente normas e leis
em valores absolutos e abstratos. Só podemos falar em uma moral
baseada na ação individual: cada ação humana só pode ser julgada
depois de realizada e avaliada caso a caso. A relação
consciência-valor é diferente da relação
consciência-conhecimento. O conhecimento é a presença de um objeto
que move a consciência na produção do saber. Na produção de
conhecimento, a consciência atua de forma reflexiva, mas nem toda
consciência é moral: os valores podem ser ou não objeto da atenção
de minha consciência, mas nenhuma consciência será “moral”
pelo simples fato de ser consciência. Uma moral baseada valores
tidos como absolutos, como bons em si mesmos, é uma moral de
“má-fé”, pois estamos recebendo uma orientação externa,
muitas vezes imposta. Nós próprios inventamos nossos valores: somos
nós mesmos que damos sentido às nossas vidas. As consequências
políticas são claras: o “valor universal” é uma abstração
irreal usada com a finalidade de manipular. O ser humano é livre, e
a liberdade consiste no ato da escolha. Nós sempre escolhemos, e não
há como evitarmos. Quando fazemos uma escolha, nós julgamos e
avaliamos com base nos valores, que nos servem de referência e
critério. Se não os temos, escolhemos algo para preencher essa
ausência. A condição paradoxal do ser humano: só avaliamos e
valoramos porque somos livres; mas, ao mesmo tempo, somos livres
porque avaliamos e valoramos, escolhendo e agindo.
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