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quarta-feira, 13 de março de 2019

3º Ano - Unidade 03 (Por que e como agimos?) - Capítulo 01 (Os valores e as escolhas)


3º Ano - Unidade 03 (Por que e como agimos?) - Capítulo 01 (Os valores e as escolhas)

→ Se os humanos são seres de ação, o que move nossos atos? Por que agimos? Como agimos? Com base em que decidimos o que vamos fazer?

→ Para responder a estas questões, a filosofia parte da noção de valor. Quando temos que decidir, nós avaliamos, isto é, comparamos os prós e os contras de cada possibilidade e atribuímos diferentes valores a cada uma delas, e escolhemos aquela que nos parece ter mais valor.

→ Platão e a universalidade dos valores: como é possível tornar uma cidade justa e consequentemente feliz? Possibilitando aos cidadãos o conhecimento de sua própria natureza, pois somos felizes quando vivemos de acordo com nossa natureza. Cada um de nós tem um temperamento ou caráter, que é a forma como as três almas se temperam, se misturam, com uma delas predominando: concupiscível; irascível; racional. Tendo em vista os três caracteres básicos, a cidade justa deve conter três classes sociais: produtora, guardiã e governante. Cada classe contribuiria com as necessidades da comunidade e teria condições de viver de acordo com sua natureza. Aquele que age mais de acordo com sua própria natureza é qualificado virtuoso. Valores como felicidade, justiça e virtude são universais, isto é, valem para todos e em qualquer época e lugar. Sobre a virtude, o filósofo afirma já estar ela presente em nós desde o nascimento. Porém, precisamos alcançá-la pelo autoconhecimento.

→ Nietzsche e a historicidade dos valores: crítica à ideia platônica de universalidade dos valores. Eles são produzidos historicamente. A principal tarefa da filosofia seria produzir uma escala de valores, mostrando sua hierarquia. É sobre a própria moral que se precisa pensar, compreendida na história, analisada em suas origens. Predomina entre nós uma “moral de rebanho”, isto é, um tipo de ação em que grandes grupos seguem um líder. Essa moral, provém de uma inversão de valores, que passou a considerar o fraco como melhor que o forte. Todos os seres vivos são animados por um impulso vital: “vontade de poder” ou “vontade de potência”. Há uma “vontade de poder forte”, que é ativa, e uma “vontade de poder fraca”, que é reativa. Elas implicam dois tipos de caráter: um caráter ativo (forte) e um caráter reativo (fraco). Porém, foi sendo criada a ideia de que os fracos são os bons e os fortes, por oposição, são maus: a inversão de valores; cujas duas fontes principais são a crença na imortalidade da alma, como propunha a filosofia socrático-platônica; e o cristianismo, que levou a resignação às suas mais profundas consequências. Os dois caracteres (o forte e fraco) implicam dois sistemas de valores distintos, ou duas diferentes morais: a moral do forte, afirmativa; a moral do fraco, reativa. Há uma questão psicológica fundamental nesse mecanismo de criação de uma moral de rebanho: o ressentimento. há também duas concepções de felicidade: a felicidade ativa (viver ativamente, criando e produzindo); e a felicidade passiva (um entorpecimento, algo que se espera um dia possuir). É urgente um processo de “transvaloração dos valores”, uma superação dos valores atualmente vigentes, pela afirmação de valores ativos, e não mais reativos.

→ Sartre – valor, escolha e liberdade: trabalha com o método fenomenológico, que tem como um dos conceitos centrais o de consciência. A consciência não possui uma interioridade, é vazia de conteúdo, se caracteriza por ser um ato: o ser consciente é aquele que observa o mundo e, ao vê-lo, percebe que está vendo. O valor é a forma de ser da consciência. O valor tem a mesma estrutura da vontade: o valor é uma falta, uma ausência, que faz com que atuemos para preenchê-la, para anulá-la. Tão logo agimos e conquistamos um valor, preenchendo a ausência, a consciência quer se manifestar de outra forma, por meio de outros valores. É por meio desse processo que um ser transcende seu próprio ser, indo além de si mesmo. O valor não é algo dado, absoluto, mas um produto da consciência: é impossível uma moral que fundamente normas e leis em valores absolutos e abstratos. Só podemos falar em uma moral baseada na ação individual: cada ação humana só pode ser julgada depois de realizada e avaliada caso a caso. A relação consciência-valor é diferente da relação consciência-conhecimento. O conhecimento é a presença de um objeto que move a consciência na produção do saber. Na produção de conhecimento, a consciência atua de forma reflexiva, mas nem toda consciência é moral: os valores podem ser ou não objeto da atenção de minha consciência, mas nenhuma consciência será “moral” pelo simples fato de ser consciência. Uma moral baseada valores tidos como absolutos, como bons em si mesmos, é uma moral de “má-fé”, pois estamos recebendo uma orientação externa, muitas vezes imposta. Nós próprios inventamos nossos valores: somos nós mesmos que damos sentido às nossas vidas. As consequências políticas são claras: o “valor universal” é uma abstração irreal usada com a finalidade de manipular. O ser humano é livre, e a liberdade consiste no ato da escolha. Nós sempre escolhemos, e não há como evitarmos. Quando fazemos uma escolha, nós julgamos e avaliamos com base nos valores, que nos servem de referência e critério. Se não os temos, escolhemos algo para preencher essa ausência. A condição paradoxal do ser humano: só avaliamos e valoramos porque somos livres; mas, ao mesmo tempo, somos livres porque avaliamos e valoramos, escolhendo e agindo.

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