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sexta-feira, 10 de junho de 2016

Resumo do Capítulo 03 (Corporeidade, gênero e sexualidade) da Unidade 02 (O que somos?)


Vivemos hoje um “culto ao corpo”, que nem sempre tem a ver com a ideia de saúde e bem-estar. Em geral, o que predomina é a preocupação estética.
Na antiga sociedade moralista, a ética e a virtude impunham uma série de deveres. Hoje, a “sociedade pós-moralista” valoriza o bem estar individual. Em lugar dos deveres, há agora “tarefas” para alcançar a felicidade.
Quando dizemos “eu”, falamos de um corpo ou de outra coisa, um “recheio” que está no corpo? Será o corpo que nos faz ser o que somos?
Podemos destacar a corporeidade como uma das dimensões humanas mais fundamentais.
Os gregos davam muita importância ao corpo. Somos seres constituídos de “soma” e “psique”.
Platão: dualismo psicofísico. Enquanto vive, o ser humano é uma união indissolúvel de um corpo físico mortal com uma alma ideal imortal. É preciso cuidar do corpo para que possamos cuidar da alma.
Aristóteles: hilemorfismo. O ser humano é feito de matéria (corpo físico) e forma (alma). Embora distintas, estas essas duas realidades são inseparáveis. Concepção orgânica: alma é aquilo que anima um corpo, estando totalmente integrada a ele, formando um sistema orgânico.
Idade Média: o corpo é sagrado e ao mesmo tempo fonte de pecado. Caberia à alma, expressão da pureza divina, controlar os desvios do corpo.
Espinosa: corpo-mente. Não utiliza alma, mas a palavra mente. Corpo e mente são uma coisa só. Se nos referimos ao pensamento, chamamos de mente, se nos referimos à matéria, corpo. Concepção não dualista. Pela primeira vez pergunta sobre as possibilidades do corpo. As ações do corpo dependem dos estímulos (afecções) que ele recebe. Dependendo de como é afetado, sua potência de agir aumenta (alegria) ou diminui (tristeza).
Merleau-Ponty: “corpo próprio”. A certeza da existência não está no pensamento mas no corpo. É no ato de percepção que descobrimos que existimos. Critica a filosofia e a fisiologia por serem mecanicistas: o corpo não é um objeto, um mecanismo. Tampouco é pura consciência ou percepção. Meu corpo próprio é a sede da percepção do mundo e de mim mesmo. Única possibilidade de existência concreta.
Foucault: o corpo é lugar em que o poder atua. O “desprezo pelo corpo” na Idade Moderna é apenas aparente, uma forma de não perceber o grande esforço que foi feito para mantê-lo controlado, para tomá-lo como força de trabalho pelo “poder disciplinar”, que atuava individualizando os corpos em instituições disciplinares.
Um dos desdobramentos da corporeidade é a sexualidade: o corpo é sexuado. Em uma visão mecanicista do corpo, o sexo é visto como algo puramente biológico. Mas existe também um dimensão simbólica, que diz respeito à forma como representamos e vivenciamos a corporeidade e que se coloca para além do biológico. Essa dimensão simbólica é o universo da cultura. Se o corpo não é apenas matéria, pois existe em uma dada cultura, a sexualidade está relacionada à dinâmica da vida humana.
Foucault: história da sexualidade: na mesma medida em que se falava de sexo, ele era reprimido. Dois caminhos das civilizações para estabelecer a “verdade” do sexo: 1. “arte erótica” como forma de prescrever as melhores e mais corretas maneiras de viver o sexo; 2. produção de um conhecimento científico sobre o sexo, como forma de procurar sua “verdade”. Dessas duas vertentes surgem duas linhas no sobre o sexo no Ocidente: um saber científico legítimo e uma visão moral do sexo. Nessa visão moral predominou a perspectiva heterossexual.
A vivência da sexualidade envolve uma conjunção dos fatores biológico e cultural, e nela também interfere a “questão do gênero”. Uma coisa é o sexo de cada pessoa visto sob o ponto de vista biológico, outra é o gênero, que também está profundamente ligado à vivência das pessoas em determinada época ou lugar.
Simone de Beauvoir: a condição da mulher na sociedade, a “condição feminina”. “Ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher” conforme vive. A cultura e o pensamento sempre foram dominados pelo homens. Desvendar e compreender essa condição é a tática para poder lutar contra ela, construindo outras realidades para o feminino.
A construção da sexualidade é biológica, cultural e histórica, assim como a construção do que somos em outras esferas.
Deleuze e Guatarri: há muitas “camadas” nas formas pelas quais vivemos a sexualidade e cada pessoa “embaralha” em si mesma o masculino e o feminino, o homossexual e o heterossexual. Se a sexualidade se reduz a dois gêneros é em razão de todo um aparato social repressor que procura conter os jogos do desejo. Um definição de gêneros é sempre algo transitório e que se faz em determinado contexto.
Esse jogo de construções de si mesmo é um jogo de identidades. A cada momento somos chamados a assumir uma identidade. É culturalmente, nas nossas relações sociais, que as identidades de gênero vão sendo construídas. E é também pela produção cultural que elas vão mudando, de acordo com os valores socialmente dominantes.

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