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sábado, 25 de março de 2023

Introdução à Filosofia: uma caracterização da filosofia «»

  • Ao perguntar o que uma coisa é, por exemplo “O que é X?”, podemos oferecer uma definição ou uma caracterização de “X”.

    • Há definições do tipo implícita e do tipo explícita:

      • Definições explícitas são expressões que não geram ambiguidades ou dúvidas sobre o que é “X”, pois são claras e precisas. Por exemplo, se “X” for água, podemos fornecer uma definição explícita dizendo que “X” é H2O.

        • No entanto, por vezes definições explícitas podem ser pouco informativas.

      • Definições implícitas não são expressões linguísticas, mas ocorrem pelo contato com o objeto a ser definido, por isso não são claras, ficam sempre subentendidas. Por exemplo, se “X” for água, podemos oferecer uma definição implícita de “X” ao mostrar vários exemplos de água.

        • Contudo, este tipo de definição é muito informativa.

    • Caracterizar uma coisa é apresentar algumas de suas propriedades informativas, porém, estas propriedades não a definem. Por exemplo, se “X” for água, podemos caracterizar “X” dizendo que é um líquido incolor, que serve para matar a sede, que enche rios, lagos e oceanos, e que cai do céu quando chove.

      • Boas caracterizações podem ser extremamente informativas.

  • Em vez de definir a filosofia, vamos caracterizá-la. Para isso, apresentaremos três dos seus aspectos importantes: o seu carácter crítico, o facto de exigir uma tomada de posição e de ser um estudo a priori.

  • A filosofia é uma atividade crítica

    • A filosofia é uma atividade crítica porque consiste em procurar boas razões (ou seja, bons argumentos) para aceitar ou recusar ideias sobre os seus problemas.

      • Ser crítico é analisar cuidadosa e imparcialmente as ideias para procurar determinar se são verdadeiras ou falsas.

    • A atitude crítica opõe-se à atitude dogmática.

      • Ser dogmático é recusar-se a analisar cuidadosa e imparcialmente as ideias, declarando-as verdadeiras ou falsas sem boas razões para isso.

    • Porque a filosofia é uma atividade crítica, fazer filosofia implica avaliar cuidadosamente os nossos preconceitos mais básicos.

      • Um preconceito é uma ideia que tomamos como verdadeira sem razões para tal.

  • A filosofia exige uma tomada de posição

    • O facto de a filosofia ser uma atividade crítica coloca-nos numa posição muito diferente daquela que nos é exigida nas outras disciplinas.

      • Em filosofia, temos de tomar posição.

        • Só que temos de compreender bem que tipo de posição se exige em filosofia. Temos a liberdade de defender qualquer posição em filosofia, mas as nossas posições têm de obedecer a duas condições:

        1. Têm de se apoiar em bons argumentos.

        2. Têm de se apoiar num conhecimento adequado dos problemas, teorias e argumentos da filosofia.

  • A filosofia é um estudo a priori

    • Os problemas da filosofia provocam alguma perplexidade porque são bastante diferentes quer dos problemas de ciências como a biologia ou a história, quer dos problemas da matemática.

      • Como vimos, tentamos resolver os problemas da filosofia recorrendo exclusivamente ao pensamento.

      • A filosofia é, em parte, como a matemática, pois ocupa-se de problemas que não se podem resolver recorrendo à experiência empírica – temos de os resolver recorrendo ao pensamento.

        • É por isso que dizemos que a filosofia é um estudo a priori.

        • Mas, ao contrário da matemática, não há na filosofia métodos formais de prova.

    • Conhecemos algo a priori quando o conhecemos sem recorrer à experiência.

    • Conhecemos algo a posteriori quando o conhecemos recorrendo à experiência.

      • Apesar de a filosofia ser um estudo a priori, para discutir certos problemas filosóficos é preciso usar conhecimentos a posteriori.

      • Apesar disso, a filosofia é a priori, por duas razões:

        • Em primeiro lugar, porque não compete à filosofia recolher essas informações empíricas: isso é feito pelas outras disciplinas.

        • Em segundo lugar, porque essas informações empíricas não permitem, por si, resolver os problemas da filosofia: é preciso pensar cuidadosamente.

        • Apesar de a filosofia ser um estudo a priori, o seu objeto de estudo é a realidade: em filosofia estuda-se a ciência, a religião, as artes, o bem, a liberdade, a justiça, etc. Dizer que a filosofia é a priori significa apenas que a filosofia estuda os problemas não empíricos destas realidades.

  • A atividade filosófica é inevitável. É inevitável porque não é mais do que a procura sistemática de justificações sensatas para as nossas ideias mais básicas – mesmo as nossas ideias acerca da própria filosofia.


  • Atividades:

1. Por que razão é a filosofia uma atividade crítica?

2. O que é o dogmatismo? Explique e dê exemplos.

3. O que é um preconceito? Dê alguns exemplos, explicando por que razão são preconceitos.

4. Diga se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas e justifique a sua resposta:

a) Todos os preconceitos são ideias falsas.

b) Alguns preconceitos são ideias falsas.

c) Ser crítico é dizer mal dos outros.

d) A filosofia opõe-se ao dogmatismo.

5. O que significa dizer que a filosofia é um estudo a priori?

6. Diga se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas e justifique a sua resposta:

a) Uma vez que a filosofia é a priori, não precisamos de informação empírica para fazer filosofia.

b) Dado que tanto a filosofia como a matemática são a priori, não há diferença entre as duas.

c) Se sabemos algo a priori, sabemo-lo sem recorrer aos dados dos sentidos.

d) Se sabemos algo a posteriori, sabemo-lo pelo pensamento apenas.

e) O conhecimento de que a neve é branca é a priori.

f) O conhecimento de que os objetos brancos são coloridos é a posteriori.

7. Apresente dois exemplos de problemas a priori e dois exemplos de problemas a posteriori.

8. Explique por que razão a filosofia é inevitável.


 

Fonte: A Arte de Pensar 10a. Aires Almeida e outros. Didactica Editora. 1ª Ed.

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