Ao perguntar o que uma coisa é, por exemplo “O que é X?”, podemos oferecer uma definição ou uma caracterização de “X”.
Há definições do tipo implícita e do tipo explícita:
Definições explícitas são expressões que não geram ambiguidades ou dúvidas sobre o que é “X”, pois são claras e precisas. Por exemplo, se “X” for água, podemos fornecer uma definição explícita dizendo que “X” é H2O.
No entanto, por vezes definições explícitas podem ser pouco informativas.
Definições implícitas não são expressões linguísticas, mas ocorrem pelo contato com o objeto a ser definido, por isso não são claras, ficam sempre subentendidas. Por exemplo, se “X” for água, podemos oferecer uma definição implícita de “X” ao mostrar vários exemplos de água.
Contudo, este tipo de definição é muito informativa.
Caracterizar uma coisa é apresentar algumas de suas propriedades informativas, porém, estas propriedades não a definem. Por exemplo, se “X” for água, podemos caracterizar “X” dizendo que é um líquido incolor, que serve para matar a sede, que enche rios, lagos e oceanos, e que cai do céu quando chove.
Boas caracterizações podem ser extremamente informativas.
Em vez de definir a filosofia, vamos caracterizá-la. Para isso, apresentaremos três dos seus aspectos importantes: o seu carácter crítico, o facto de exigir uma tomada de posição e de ser um estudo a priori.
A filosofia é uma atividade crítica
A filosofia é uma atividade crítica porque consiste em procurar boas razões (ou seja, bons argumentos) para aceitar ou recusar ideias sobre os seus problemas.
Ser crítico é analisar cuidadosa e imparcialmente as ideias para procurar determinar se são verdadeiras ou falsas.
A atitude crítica opõe-se à atitude dogmática.
Ser dogmático é recusar-se a analisar cuidadosa e imparcialmente as ideias, declarando-as verdadeiras ou falsas sem boas razões para isso.
Porque a filosofia é uma atividade crítica, fazer filosofia implica avaliar cuidadosamente os nossos preconceitos mais básicos.
Um preconceito é uma ideia que tomamos como verdadeira sem razões para tal.
A filosofia exige uma tomada de posição
O facto de a filosofia ser uma atividade crítica coloca-nos numa posição muito diferente daquela que nos é exigida nas outras disciplinas.
Em filosofia, temos de tomar posição.
Só que temos de compreender bem que tipo de posição se exige em filosofia. Temos a liberdade de defender qualquer posição em filosofia, mas as nossas posições têm de obedecer a duas condições:
Têm de se apoiar em bons argumentos.
Têm de se apoiar num conhecimento adequado dos problemas, teorias e argumentos da filosofia.
A filosofia é um estudo a priori
Os problemas da filosofia provocam alguma perplexidade porque são bastante diferentes quer dos problemas de ciências como a biologia ou a história, quer dos problemas da matemática.
Como vimos, tentamos resolver os problemas da filosofia recorrendo exclusivamente ao pensamento.
A filosofia é, em parte, como a matemática, pois ocupa-se de problemas que não se podem resolver recorrendo à experiência empírica – temos de os resolver recorrendo ao pensamento.
É por isso que dizemos que a filosofia é um estudo a priori.
Mas, ao contrário da matemática, não há na filosofia métodos formais de prova.
Conhecemos algo a priori quando o conhecemos sem recorrer à experiência.
Conhecemos algo a posteriori quando o conhecemos recorrendo à experiência.
Apesar de a filosofia ser um estudo a priori, para discutir certos problemas filosóficos é preciso usar conhecimentos a posteriori.
Apesar disso, a filosofia é a priori, por duas razões:
Em primeiro lugar, porque não compete à filosofia recolher essas informações empíricas: isso é feito pelas outras disciplinas.
Em segundo lugar, porque essas informações empíricas não permitem, por si, resolver os problemas da filosofia: é preciso pensar cuidadosamente.
Apesar de a filosofia ser um estudo a priori, o seu objeto de estudo é a realidade: em filosofia estuda-se a ciência, a religião, as artes, o bem, a liberdade, a justiça, etc. Dizer que a filosofia é a priori significa apenas que a filosofia estuda os problemas não empíricos destas realidades.
A atividade filosófica é inevitável. É inevitável porque não é mais do que a procura sistemática de justificações sensatas para as nossas ideias mais básicas – mesmo as nossas ideias acerca da própria filosofia.
Atividades:
1. Por que razão é a filosofia uma atividade crítica?
2. O que é o dogmatismo? Explique e dê exemplos.
3. O que é um preconceito? Dê alguns exemplos, explicando por que razão são preconceitos.
4. Diga se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas e justifique a sua resposta:
a) Todos os preconceitos são ideias falsas.
b) Alguns preconceitos são ideias falsas.
c) Ser crítico é dizer mal dos outros.
d) A filosofia opõe-se ao dogmatismo.
5. O que significa dizer que a filosofia é um estudo a priori?
6. Diga se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas e justifique a sua resposta:
a) Uma vez que a filosofia é a priori, não precisamos de informação empírica para fazer filosofia.
b) Dado que tanto a filosofia como a matemática são a priori, não há diferença entre as duas.
c) Se sabemos algo a priori, sabemo-lo sem recorrer aos dados dos sentidos.
d) Se sabemos algo a posteriori, sabemo-lo pelo pensamento apenas.
e) O conhecimento de que a neve é branca é a priori.
f) O conhecimento de que os objetos brancos são coloridos é a posteriori.
7. Apresente dois exemplos de problemas a priori e dois exemplos de problemas a posteriori.
8. Explique por que razão a filosofia é inevitável.
Fonte:
A Arte de Pensar 10a. Aires Almeida e outros. Didactica Editora. 1ª
Ed.
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